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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Todas as manhãs o girassol parte em busca do
sol, seguindo a luminosidade insistentemente, porque precisa dela para crescer
e florescer. Mesmo quando o sol está escondido entre as nuvens, a flor gira
persistente, apesar da dificuldade, em direção à luz. Em alusão a esse
comportamento da natureza, o girassol foi escolhido como símbolo da campanha Na
Direção da Vida – Depressão sem Tabu, iniciativa do movimento mundial Setembro
Amarelo, que tem o objetivo de abrir o diálogo e alertar a sociedade sobre o
tema.
A campanha conduzida pela Upjohn, uma das
divisões de um laboratório farmacêutico focada em doenças crônicas não
transmissíveis, em parceria com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e
Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e participação do Centro de
Valorização à Vida (CVV), trará ações digitais e de rua para combater os
estigmas da depressão. O trabalho tem ainda o apoio de músicos, esportistas e
influenciadores digitais que já passaram ou passam pelo problema, dividindo
suas experiências.
Os usuários de redes sociais serão convidados
a postar o ícone do girassol para mostrar que estão dispostos a falar sobre o
assunto #depressaosemtabu. Eles também poderão conhecer o site www.depressaosemtabu.com.br,
que traz informações sobre o tema e orientações sobre a identificação de
comportamentos de risco em pessoas próximas.
Fora da internet, no dia 10 de setembro, Dia
Mundial de Prevenção ao Suicídio, um labirinto de dois mil girassóis, com 120
metros quadrados, será montado no Largo da Batata, zona oeste de São Paulo.
Quem percorrer o caminho do labirinto acompanhará a jornada do paciente com
depressão, desde a dificuldade do diagnóstico até os desafios ao longo do
tratamento, como o preconceito ou a sensação de inadequação. A instalação
estará aberta das 9h às 18h, até o dia 14.
“Queremos
levar informação às pessoas. Quem visitar o local será convidado a deixar uma
mensagem de coragem e apoio aos pacientes. Ao final, essas flores serão
recolhidas e doadas para uma organização não governamental, que as transformará
em buquês para serem distribuídos a pessoas que estão em tratamento", explicou a
neurologista da Upjohn Elizabeth Bilevicius.
Depressão e suicídio
Segundo Elizabeth, para tratar a depressão e
evitar o suicídio, o primeiro passo é ver a depressão como uma doença que
precisa ser tratada. “Precisamos criar uma atmosfera de confiança para o
paciente se sentir à vontade para dizer que tem a doença e legitimar o que ele
sente como sintoma de algo que pode ser tratado. Essa é uma forma de encorajar
a busca por ajuda adequada, criando um entorno social mais empático e melhor
informado para ajudar essa pessoa”, disse.
De acordo com as informações da Upjohn, mais
de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais e
transtornos do humor. A depressão é o diagnóstico mais frequente, aparecendo em
36% das vítimas. O aumento dos casos entre os mais novos e com prevalência
entre os homens faz da depressão a quarta maior causa de suicídio entre jovens
no país. Outras doenças que podem ser tratadas, como o alcoolismo, a
esquizofrenia e transtornos de personalidade, também afetam esses pacientes e
por isso afirma-se que o suicídio pode ser evitado na maioria das vezes.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
mostram que o Brasil é o país com maior percentual de depressão na América
Latina, chegando a 5,8% da população, o que corresponde a 12 milhões de
brasileiros. A taxa é maior do que o valor global, que é de 4,4%. Igualmente
maior do que em outros países, a taxa de suicídio entre adolescentes de 10 a 19
anos aumentou 24% de 2006 a 2015. A cada 46 minutos alguém tira a própria vida
no Brasil.
O psiquiatra Teng Chei Tung,
coordenador dos Serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP) e
vice-coordenador da Comissão de Emergência Psiquiátrica da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP), explicou que a alta incidência entre os jovens
está ligada à grande expectativa externa e interna de que eles se comportem
como adultos, mesmo sem ter ainda as habilidades de um adulto, e à pressão de
que o adolescente seja pleno, potente, competente e reconhecido.
"Então
ele faz as coisas, erra e se frustra. Nessas frustrações os jovens podem entrar
na depressão. Os preconceitos são os mesmos e são agravados pela desinformação.
Para o jovem existe a influência do pensamento de que a saúde mental é só uma
questão social, existencial e psicológica", afirmou.
Teng disse que sentir tristeza é normal e que
a frustração sempre traz alguma tristeza passageira, mas é preciso que as
pessoas próximas fiquem atentas para perceber quando esse estado já se tornou
uma depressão. Segundo ele, a tristeza é algo que gera introspecção, provoca
reflexão e crescimento, mas o deprimido fica introspectivo por vários dias e
semanas.
"Um
dos parâmetros é quando há sofrimento excessivo e quando começa a causar real
prejuízo. Afeta as relações interpessoais, produtividade no trabalho, ou
sofrimento individual, ou seja, a pessoa está sofrendo mais do que que
precisaria naquela situação. Não é que não pode ter tristeza e emoção, mas isso
não pode prejudicar a pessoa a ponto de afetá-la fisicamente", destacou.
Para Teng, a melhor forma de falar sobre a
depressão é deixar claro que ela é uma doença que apresenta alterações
biológicas e fisiológicas, envolvendo fatores genéticos e estruturais, o que
significa que a pessoa nasce com a tendência de desenvolver o quadro
depressivo. O tratamento inclui, principalmente, melhorar o estilo de vida.
"Quem tem depressão precisa se
equilibrar e cuidar da saúde, para não ter de novo a doença", disse
o médico.
Informações da Agência Brasil
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